Os Primeiros Habitantes da Ribeira do Jaguaribe: A Luta e o Legado Indígena
Antes que os colonizadores portugueses lançassem os olhos sobre o Ceará, a terra já tinha dono. Tupis e Cariris habitavam os sertões, vivendo da caça, da pesca e da coleta, em harmonia com a natureza. Com o avanço da colonização, porém, o que começou como um contato pacífico logo se transformou em um conflito sangrento, que culminaria no que a história chamou de Guerra dos Bárbaros, um genocídio que quase extinguiu as nações indígenas do Nordeste.
Os primeiros vaqueiros, ao ocuparem a Ribeira do Jaguaribe, trouxeram consigo o gado e o arame, cercando terras que antes eram livres. O indígena, que via o gado como qualquer outro animal da mata, caçava-o para se alimentar, sem compreender a noção de propriedade imposta pelos colonizadores. A reação foi brutal: os antigos habitantes foram caçados, expulsos ou reduzidos à escravidão.
Os Povos Indígenas da Ribeira do Jaguaribe
O historiador Carlos Studart Filho classificou os grupos indígenas cearenses em cinco grandes troncos:
- Tupis
- Cariris
- Tremembés
- Tarairius
- Jês
Na Ribeira do Jaguaribe, destacavam-se povos como:
- Icós – Habitavam as margens dos rios Salgado e Jaguaribe.
- Paiacus – Povos da ribeira do Jaguaribe.
- Jenipaboassu e Icosinhos – Viviam nos sertões do Jaguaribe.
- Jaguaribaras – Estabelecidos ao longo do rio Jaguaribe.
Essas nações moldaram a cultura da região muito antes da chegada dos portugueses. Suas técnicas de sobrevivência, seus hábitos e seus saberes foram, aos poucos, sendo apagados pelo avanço da colonização, mas ainda hoje resistem na memória do povo sertanejo.
A Resistência e o Extermínio
Com a chegada do homem branco, a fixação de fazendas e a posse das terras, os indígenas viram sua liberdade reduzida. Lutaram como puderam, mas suas armas de madeira pouco podiam contra o bacamarte e o aço europeu. Michel de Montaigne, no século XVI, já refletia sobre a forma injusta como os colonizadores julgavam os povos originários:
“Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. E é natural, porque só podemos julgar da verdade e da razão de ser das coisas pelo exemplo dos usos e costumes do país em que vivemos.”
As terras foram ocupadas, as aldeias destruídas e os sobreviventes escravizados ou catequizados. Os que restaram, miscigenaram-se, perdendo sua identidade cultural original, mas deixando um legado que, de certa forma, ainda persiste.
O Cotidiano Indígena Segundo Henry Koster (1810)
O naturalista inglês Henry Koster, que visitou o Ceará no início do século XIX, descreveu os indígenas sobreviventes com um olhar atento. Segundo ele, eram ágeis, destemidos e tinham habilidades de rastreamento superiores a qualquer outro povo. Relatou, porém, a forma como foram marginalizados:
- Trabalhavam como guias e carregadores, devido ao seu conhecimento do território.
- Eram caçadores e pescadores habilidosos, vivendo às margens dos rios.
- Não tinham interesse pela agricultura, muitas vezes vendendo suas colheitas antes mesmo de amadurecerem.
- Possuíam outra concepção de riqueza, não atrelada ao dinheiro, mas sim à natureza e aos laços comunitários.
Mas Koster também registrou a triste realidade da exclusão, pois os indígenas que restaram eram tratados com desconfiança e considerados instáveis para o trabalho regular. Seus valores não se encaixavam no modelo econômico da colônia, e assim foram marginalizados e apagados da história oficial.
O Legado dos Primeiros Habitantes
Embora tenham sido praticamente exterminados, os povos indígenas do Ceará ainda vivem no que herdamos deles:
- Dormimos em redes, como faziam os índios.
- Nos alimentamos de milho e mandioca, base da sua culinária.
- Nossos rios, cidades e regiões carregam seus nomes: Jaguaribe, Aningas, Icapuí.
A história da Ribeira do Jaguaribe foi escrita com o sangue e a resistência desses povos. E enquanto o vento balançar as redes sertanejas, enquanto o milho alimentar o nosso povo e enquanto a caatinga der frutos, a memória indígena seguirá viva, enraizada na identidade do Ceará.
Francisco Sérgio Barreto Ribeiro imprime em seus artigos a dedicação à história jaguaribana e ao desenvolvimento agronômico. Engenheiro Agrônomo formado pela UFC, especialista em Fruticultura Irrigada pelo CENTEC e em Docência Profissional pelo IFCE, ele é um pesquisador apaixonado pelo legado do Vale do Jaguaribe e colunista da Revista Arautos do Vale.
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