Cana-de-açúcar Enfrenta Impactos Severos da Seca e Incêndios
Quando a safra de cana-de-açúcar começou em abril, o setor projetava uma colheita de 420 milhões de toneladas no estado de São Paulo. No entanto, essa estimativa foi gradualmente frustrada devido à seca prolongada. Atualmente, a Orplana prevê uma colheita de 370 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 12% (50 milhões de toneladas) em relação à previsão inicial.
De acordo com Maurício Muruci, analista de cana-de-açúcar da Safras e Mercados, “desde abril, praticamente não houve chuvas nos canaviais”. O especialista da Orplana, Nogueira, explica que a seca faz com que as plantas de cana fiquem mais finas, rachadas e “isoporadas”, diminuindo o teor de açúcar. Isso compromete a qualidade da cana para a extração de açúcar e etanol.
Efeitos dos Incêndios
Os incêndios recentes exacerbam ainda mais a situação. Entre sexta-feira (23) e sábado (24), mais de 2 mil focos de fogo queimaram aproximadamente 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 59 mil hectares, representando cerca de 1,5% da produção total de São Paulo. Embora o percentual seja pequeno, o fogo também danificou rebrotas, o que reduzirá a produtividade da próxima safra.
Cada planta de cana pode rebrotar de cinco a seis vezes, permitindo múltiplas safras com o mesmo plantio. No entanto, com as perdas causadas pelos incêndios, alguns agricultores terão que replantar ou terão menos safras, o que aumentará os custos de produção. Além disso, uma planta de cana queimada deve ser colhida rapidamente, pois após seis a sete dias, o risco de fungos e bactérias que inviabilizam o uso da planta aumenta, alerta Nogueira.
Nogueira também destaca que a colheita dos 59 mil hectares afetados será um desafio devido à falta de máquinas suficientes. No entanto, há a possibilidade de recuperação parcial da cana queimada.
Projeções de Perdas e Impacto nos Preços
A Orplana deve divulgar novos números sobre os impactos dos incêndios nesta quarta-feira (28), incluindo as perdas dos dias 25 e 26. Além disso, com a seca se prolongando em setembro, é provável que as estimativas de colheita sejam revistas para baixo. Nogueira prevê uma revisão nas projeções de produção.
Muruci, da Safras, observa que a produtividade da primeira metade da safra já teve uma redução de 30%, e com os incêndios, espera-se uma queda adicional de 30%. “Portanto, haverá uma redução total de 60% na produtividade da cana neste segundo semestre”, afirma.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) ainda não possui um levantamento sobre o impacto das queimadas na produção das usinas.
Efeitos no Preço do Açúcar e Etanol
Tanto Muruci quanto Nogueira acreditam que a seca e os incêndios podem levar a um aumento nos preços do etanol e do açúcar ao consumidor. “Com a redução da produtividade, há menos oferta de matéria-prima para a indústria, o que impacta os preços”, explica o CEO da Orplana.
Na segunda-feira (26), os contratos futuros de açúcar bruto na bolsa de Nova York subiram 3,5% devido aos incêndios no Brasil, o maior produtor de cana do mundo. “O incêndio foi um fator que impulsionou a alta dos preços na bolsa, mas o mercado também estava considerando a seca e a quebra na produção que já estavam em andamento”, observa Nogueira.
Nesta terça-feira (27), o preço do açúcar na bolsa de NY subiu 3,36%, acumulando uma alta de 8% desde a quinta-feira passada, destaca Muruci. Em relação ao etanol, o impacto para o consumidor deverá ser percebido em cerca de 15 a 20 dias, que é o tempo necessário para a cana prejudicada ser colhida, processada e distribuída.