Civilização do Couro: O Sertão Forjado na Lida e na História
No rastro dos cascos do gado e no compasso dos aboios, nasceu no Ceará a Civilização do Couro, expressão cunhada por Capistrano de Abreu para definir a cultura sertaneja moldada pelos vaqueiros que desbravaram a Ribeira do Jaguaribe. Desde 1681, quando as primeiras sesmarias foram distribuídas, esses homens simples, mas de espírito indomável, fincaram raízes no sertão, edificando as primeiras casas fortes e currais, estabelecendo fazendas e impondo um modo de vida que definiria a identidade do interior cearense.
Os Primeiros Vaqueiros: Guerreiros do Sertão
Os vaqueiros que chegaram com as expedições do Rio Grande do Norte e do Rio São Francisco não encontraram terras vazias, mas um sertão povoado por índios, matas fechadas e rios desafiadores. No embate entre culturas, venceram pela força e pelo bacamarte, mas também pela resiliência e pela capacidade de adaptação ao ambiente. E foi assim que nasceu um povo, uma cultura e uma civilização única, esculpida no couro do gibão e na aspereza da caatinga.
Entre os muitos desafios, dominaram o ambiente, impuseram novos costumes e criaram soluções para a vida no sertão. O couro, material abundante devido à pecuária, tornou-se a base de tudo:
- Vestimentas rústicas e resistentes, como o gibão, perneira e chapéu de couro, que protegiam o vaqueiro das investidas da mata seca.
- Móveis e utensílios feitos de madeira e couro, adaptados ao cotidiano das fazendas.
- Equipamentos e acessórios, desde arreios e selas até bolsas para guardar mantimentos e transportar água.
- Expressões culturais, como modas de viola, cantigas e aboios, que ecoam até hoje no sertão.
A Vida na Ribeira do Jaguaribe
O vaqueiro nordestino não era apenas um peão do gado. Era construtor de cidades e modelador do território. Foram eles que:
- Ergueram casas fortes e currais, como no Sítio Jaguaribe-Mirim (1708), berço da cidade de Jaguaribe.
- Construíram as capelas de taipa, como a de Nossa Senhora das Candeias e a de Santo Antônio, dando origem a novas povoações.
- Implantaram roçados de arroz, milho, feijão e mandioca, garantindo a subsistência da comunidade sertaneja.
- Travaram lutas sangrentas com os índios tapuias, impondo sua presença no sertão.
A Ribeira do Jaguaribe tornou-se o epicentro da pecuária cearense, e dos currais nasceram vilas, que depois se tornaram cidades. Até hoje, topônimos tradicionais como Curralinho, Boa Altura, Feiticeiro e Gonçalo Alves carregam a memória dos primeiros vaqueiros e suas fazendas.
O Legado da Civilização do Couro
Gustavo Barroso afirmava que foram os primeiros vaqueiros que realizaram a nossa história, vencendo o índio, a agrestia do sertão e a solidão imposta pela vastidão da terra. Eles criaram um modo de vida baseado na pecuária, que evoluiu para as vaquejadas e perpetuou lendas como a do boi Raposinho.
No embalo das toadas e no grito dos aboios, a Civilização do Couro segue viva. Nas arenas de vaquejada, nos sertões que ainda reverenciam os vaqueiros e na alma de um povo que carrega no sangue a bravura e a resistência dos que domaram a terra, o gado e o destino.
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Francisco Sérgio Barreto Ribeiro imprime em seus artigos a dedicação à história jaguaribana e ao desenvolvimento agronômico. Engenheiro Agrônomo formado pela UFC, especialista em Fruticultura Irrigada pelo CENTEC e em Docência Profissional pelo IFCE, ele é um pesquisador apaixonado pelo legado do Vale do Jaguaribe e colunista da Revista Arautos do Vale.