A criação de búfalos no Ceará vem ganhando destaque nos últimos anos, impulsionada por um mercado de alto valor agregado e pelas condições climáticas favoráveis do estado.
Segundo dados da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, o rebanho cearense atingiu 1.763 cabeças em 2024, um crescimento de 19,9% em dez anos, consolidando o estado como quarta maior criação do Nordeste e 21ª do Brasil.
Crescimento e concentração da criação de búfalos no Ceará
A criação de búfalos no Ceará está presente em 38 municípios, mas Paracuru e Pentecoste concentram os maiores rebanhos, com 570 e 270 cabeças, respectivamente.
O aumento do rebanho estadual é puxado por fazendas modelo, como a Fazenda Laguna, em Paracuru, referência na América Latina pela qualidade genética e produção de leite de búfala e queijos artesanais.
De acordo com Marcelo Prado, diretor da Fazenda Laguna, o foco é expandir a produção de leite em 20% ao ano, atingindo até 5 mil litros diários até 2030.
“São produtos de valor agregado, com sabor e qualidade superiores. Nosso objetivo é dobrar a produção de leite nos próximos cinco anos”, afirma Prado.
Cenário nacional e posição do Ceará
No cenário regional, o Maranhão lidera a bubalinocultura nordestina com mais de 95 mil cabeças, seguido por Bahia, Pernambuco e Ceará.
No Brasil, a liderança é do Pará, com 775 mil animais, seguido por Amapá e Amazonas, que juntos somam mais de 1 milhão de búfalos.
Apesar de o Ceará ainda ter um rebanho modesto, especialistas apontam forte potencial de expansão devido à adaptação da espécie ao clima semiárido e à demanda crescente por produtos de origem bubalina.
Por que o rebanho de búfalos é pequeno no Ceará
Para o professor Kilmer Coelho Campos, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a criação ainda é tímida por fatores culturais e econômicos.
“O Ceará não tem tradição na bubalinocultura. Os produtores estão habituados à bovinocultura e à caprinocultura”, explica.
Além disso, os altos custos iniciais, a falta de conhecimento técnico e a dificuldade de comercialização dos produtos são desafios para o crescimento do setor.
Mesmo assim, o especialista acredita que há viabilidade econômica, principalmente com o uso das mesmas estruturas da bovinocultura e a adoção de tecnologias de manejo e reprodução.
Inovação: fertilização in vitro em búfalos
Um dos avanços mais promissores é o projeto de fertilização in vitro (FIV) desenvolvido pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), em parceria com a Fazenda Laguna.
O Ceará tornou-se o quarto estado do país a registrar nascimentos de búfalos por FIV, após Pará, Minas Gerais e São Paulo.
O projeto busca melhorar geneticamente o rebanho, utilizando óvulos de búfalas de alto desempenho fecundados em laboratório e implantados em fêmeas receptoras.
Segundo o professor Vicente Freitas, da Uece, o objetivo é “tornar o Ceará referência nacional em genética e reprodução bubalina”.
Vantagens e potencial da bubalinocultura
A engenheira agrônoma Patrícia Guimarães Pimentel, da UFC, destaca que o leite de búfala tem mais proteína, cálcio e lipídios saudáveis que o bovino, além de gerar maior rendimento na produção de queijos e derivados.
A carne de búfalo também apresenta menor teor de gordura e melhor valor nutricional, sendo muito apreciada na alta gastronomia.
Outro ponto positivo é o baixo índice de doenças e a alta eficiência digestiva dos animais, que aproveitam melhor as pastagens e reduzem custos de produção.
“Os búfalos são dóceis, adaptáveis e ideais para pequenos produtores. Em todo o mundo, quem investe na bubalinocultura não se arrepende”, afirma a pesquisadora.
Perspectivas para o futuro da bubalinocultura no Ceará
Com o avanço da tecnologia genética, a ampliação de fazendas especializadas e o crescimento do consumo de derivados de leite de búfala, a tendência é que o Ceará amplie sua participação no mercado nacional.
Eventos como o Encontro Brasileiro de Bubalinocultores, previsto para novembro em Fortaleza, devem ajudar a divulgar a atividade, atrair novos investidores e fortalecer a cadeia produtiva.
A criação de búfalos no Ceará, portanto, se posiciona como alternativa estratégica e sustentável para diversificar a pecuária e agregar valor à produção rural no estado.