Em um estado marcado pela força da agricultura familiar e pelos desafios climáticos do semiárido, o cooperativismo tem se mostrado uma das mais poderosas ferramentas de desenvolvimento rural sustentável no Ceará. Mais do que um modelo econômico, é um movimento de união, solidariedade e construção coletiva — que gera renda, promove dignidade e amplia oportunidades para os produtores cearenses.
Números que comprovam o impacto
O cooperativismo no Ceará tem apresentado crescimento sólido, especialmente no setor agropecuário:
• 129 cooperativas ativas no estado, de diversos ramos.
• 145.475 cooperados em 2024.
• 11.477 empregos diretos gerados por cooperativas cearenses.
• R$ 6,82 bilhões em receita total, com R$ 250,4 milhões em sobras distribuídas (aumento de 228% em relação a 2023).
• No ramo agropecuário, são 41 cooperativas, com 4.162 cooperados, mais de 500 empregos diretos e R$ 362,7 milhões em faturamento em 2024.
Fonte: Sistema OCB/CE – AnuárioCoop 2024
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Principais Benefícios do Cooperativismo no Agro Cearense
- Fortalecimento da Agricultura Familiar
O cooperativismo é essencial para pequenos e médios produtores, pois:
• Garante escala de compra de insumos e venda da produção, melhorando o poder de negociação.
• Possibilita o acesso a mercados institucionais, como o PNAE (merenda escolar) e o PAA (aquisição de alimentos).
• Promove solidariedade e confiança entre os produtores, criando redes de apoio no campo.
- Geração de Renda e Emprego Local
As cooperativas cearenses geram milhares de empregos diretos, além de:
• Movimentar economias locais em cidades médias e pequenas.
• Reinvestir as sobras (lucros) nos próprios cooperados e nas comunidades.
• Contribuir para fixar o homem no campo, combatendo o êxodo rural.
- Acesso à Assistência Técnica e Capacitação
O Sistema OCB/CE e a Ematerce vêm atuando para:
• Capacitar cooperativas na gestão contábil, financeira e organizacional.
• Oferecer assistência técnica rural especializada, por meio de programas como o Projeto São José e ATER Sustentável.
• Fomentar boas práticas agrícolas, agroecologia, produção orgânica e certificação.
- Integração Comercial e Participação em Feiras
Nos últimos anos, cooperativas cearenses têm:
• Participado de eventos como a Naturaltech (SP), levando produtos como mel, cajuína vegana, doces artesanais, frutas e geleias regionais.
• Estabelecido contratos com redes varejistas, supermercados e feiras interestaduais.
• Estreitado parcerias com empresas, ONGs e o poder público para ampliar acesso a mercados e valorizar a produção local.
- Inclusão de Mulheres e Jovens no Campo
As cooperativas vêm incentivando a participação feminina e jovem na gestão e produção rural, criando:
• Programas de liderança e empreendedorismo rural.
• Projetos voltados à juventude do campo, para garantir renovação geracional no agro.
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Casos de Sucesso no Ceará
• Coopavic (Viçosa do Ceará): referência em produção de hortifrutigranjeiros e beneficiamento.
• Coopercentro (Centro-Sul): fortalece pequenos agricultores com comercialização conjunta e projetos sustentáveis.
• Coopamab (Maciço de Baturité): destaque em agroecologia e exportação de derivados do mel.
• Municípios como Tauá já compram 97% da merenda escolar via agricultura familiar, beneficiando diretamente os cooperados locais.
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O que dizem os produtores
“Antes da cooperativa, eu vendia meu produto na feira e era explorado por atravessador. Agora, ganho melhor, tenho apoio técnico e posso planejar meu futuro com mais segurança.”
— Francisco das Chagas, agricultor familiar e cooperado no Sertão Central
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Desafios e Oportunidades
Apesar dos avanços, ainda há desafios a superar:
• Baixa capitalização e necessidade de linhas de crédito cooperativo.
• Necessidade de modernização da gestão de algumas cooperativas.
• Baixa integração entre as cooperativas cearenses.
Oportunidades:
• Criação de centrais de cooperativas (intercooperação).
• Fortalecimento de agroindústrias cooperativas locais.
• Parcerias com instituições de ensino, Sebrae, Senar e Embrapa para inovação e tecnologia.
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Conclusão
O cooperativismo no Ceará é um pilar de resistência e prosperidade no campo. Ele transforma vidas, amplia horizontes e consolida o agro como motor de desenvolvimento local e regional. Ao investir em cooperativas, o Ceará investe em gente, em dignidade e em um futuro mais justo para quem alimenta o Brasil.
Cooperar é o caminho. E no agro cearense, essa estrada já começou a ser pavimentada com união, trabalho e esperança.
Diego Trindade é produtor rural, advogado e coordenador do EPROCE. Diretor do Portal AgroMais, também é fundador das iniciativas Agro no Ponto e Agro Otimista, que fortalecem a imagem e os valores do setor. Nesta coluna, compartilha informações exclusivas sobre projetos, acordos e inovações que impulsionam o agro.
Pós-graduado em Direito Ambiental e Agrário (PUC/SP), tem MBA em Economia e Gestão de Negócios (FGV/SP) e LL.M. em Finanças (INSPER/SP). Já atuou no Comitê Tributário da Sociedade Rural Brasileira e foi conselheiro titular do CONAT/CE.