O Brasil e biocombustíveis podem ganhar destaque nas discussões da COP30, marcada para novembro, em Belém (PA). De acordo com um documento preliminar obtido por fontes internacionais, o governo brasileiro estuda sugerir que os países se comprometam a quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, em comparação aos níveis de 2024.
A proposta ainda não foi oficializada, mas indicaria a intenção do Brasil de reforçar sua liderança na agenda de energia limpa. O texto em estudo cita biocombustíveis, biogás e hidrogênio verde como alternativas estratégicas para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e diminuir as emissões de carbono.
Brasil e biocombustíveis: uma possível pauta da COP30
O plano preliminar sugere que o Brasil e biocombustíveis poderiam ser apresentados como exemplo de transição energética sustentável. O país é hoje o segundo maior produtor mundial de etanol, derivado da cana-de-açúcar, e busca fortalecer sua imagem como referência em soluções de baixo carbono.
Contudo, a proposta enfrenta resistências de ambientalistas e especialistas. Organizações internacionais alertam para os possíveis impactos da expansão dos biocombustíveis sobre o meio ambiente e a produção de alimentos. Um relatório da Transport and Environment aponta que, em escala global, os biocombustíveis podem emitir até 16% mais CO₂ do que os combustíveis fósseis, considerando desmatamento e mudanças no uso da terra.
Desafios ambientais e impactos globais
Os críticos alertam que, caso o consumo de biocombustíveis seja ampliado sem critérios ambientais, a demanda por terras agrícolas pode crescer a ponto de ocupar uma área equivalente à França até 2030.
O mesmo estudo mostra que 20% dos óleos vegetais produzidos no mundo já são destinados a combustíveis, reduzindo sua oferta para alimentação. Além disso, são necessários cerca de 3.000 litros de água para percorrer 100 km movido a biocombustível — enquanto painéis solares poderiam gerar energia semelhante ocupando apenas 3% da área agrícola.
Por outro lado, apoiadores da medida argumentam que com tecnologias mais eficientes e critérios rigorosos, os biocombustíveis podem contribuir para a descarbonização global, especialmente em setores de transporte e agricultura.
Debate político e expectativas para Belém
O debate sobre Brasil e biocombustíveis reflete a diversidade política dentro do próprio governo federal. A coalizão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne desde ambientalistas como Marina Silva até representantes do agronegócio, o que torna o tema sensível.
De acordo com rascunhos da agenda, o encontro de líderes da COP30, previsto para os dias 6 e 7 de novembro, deve abordar dois eixos principais: florestas tropicais e transição energética. No primeiro dia, o Brasil deve apresentar a iniciativa “Tropical Forests Forever Facility”, que busca captar US$ 125 bilhões para a conservação das florestas. O segundo dia deve concentrar o debate sobre energia limpa, onde a proposta de ampliação dos biocombustíveis pode ser discutida entre os chefes de Estado.
Uma proposta em análise
Caso avance, a proposta de ampliar o uso global de biocombustíveis colocaria o Brasil como protagonista na transição energética internacional. No entanto, ainda não há consenso entre os países sobre o tema — e especialistas destacam a necessidade de garantias ambientais, transparência e proteção da biodiversidade.
A COP30 deve reunir mais de 190 nações e será um dos eventos climáticos mais relevantes da década, marcando o primeiro grande encontro global desde a COP28, em Dubai. Até lá, o mundo observará atentamente os próximos passos do Brasil e biocombustíveis.