O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, na última quarta-feira (17 de setembro de 2025), manter a taxa Selic em 15% ao ano, o maior nível em quase 20 anos. A justificativa oficial é conter a inflação, mas, na prática, a medida tem efeito direto no agronegócio brasileiro, setor que responde por quase 25% do PIB e sustenta a balança comercial do país.
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Crédito mais caro, campo mais travado
O crédito rural, essencial para custear a safra, investir em máquinas e expandir propriedades, ficou praticamente inviável. Segundo dados da CNA, o volume de financiamentos contratados no Plano Safra 2024/25 caiu 12% em relação ao ano anterior, reflexo do custo elevado.
Para pequenos e médios produtores, o impacto é ainda mais duro. Muitos estão reduzindo rebanhos, diminuindo áreas plantadas ou adiando investimentos por não suportarem os encargos financeiros.
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Vozes do campo
José Carlos Lima, produtor de leite no Ceará:
“Consegui o custeio, mas a juros que não compensam. Em vez de aumentar, vou cortar vacas do rebanho. O resultado é leite mais caro na mesa do consumidor.”
Mariana Freitas, produtora de soja na Bahia:
“Enquanto nos EUA o produtor financia a 3% ao ano, aqui passamos de 10% até com linhas rurais. Não dá para competir com esse peso.”
Antônio Alves, pecuarista no Mato Grosso do Sul:
“Os juros não travam só o campo. Frigorífico deixa de ampliar, transportador não troca caminhão, cooperativa não investe em armazém. O agro inteiro trava.”
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Competitividade internacional em risco
Com juros a 15%, o custo de produção brasileiro cresce em cadeia. Isso afeta a competitividade do país no cenário global, justamente no momento em que concorrentes como EUA, Argentina e Austrália ampliam produtividade com linhas de crédito mais acessíveis.
Segundo levantamento da FGV, o custo médio do crédito agrícola no Brasil hoje é quase cinco vezes maior que o praticado por produtores norte-americanos.
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Um freio ao crescimento
Ao manter os juros em patamar tão elevado, o Brasil corre o risco de limitar o crescimento de seu principal setor econômico. O agro precisa de estabilidade para planejar, investir e inovar. Sem isso, o país perde oportunidades e deixa de gerar empregos, renda e alimentos mais acessíveis.
Como resumiu José Carlos, do Ceará:
“Se o agro para, o Brasil para junto.”
Diego Trindade é produtor rural, advogado e coordenador do EPROCE. Diretor do Portal AgroMais, também é fundador das iniciativas Agro no Ponto e Agro Otimista, que fortalecem a imagem e os valores do setor. Nesta coluna, compartilha informações exclusivas sobre projetos, acordos e inovações que impulsionam o agro.
Pós-graduado em Direito Ambiental e Agrário (PUC/SP), tem MBA em Economia e Gestão de Negócios (FGV/SP) e LL.M. em Finanças (INSPER/SP). Já atuou no Comitê Tributário da Sociedade Rural Brasileira e foi conselheiro titular do CONAT/CE.