Com apoio técnico e estratégico do Sebrae, apicultores da região estruturam agroindústrias, conquistam certificações e projetam o mel dos Inhamuns no mercado nacional e internacional

Apicultores de Aiuba (Foto: Sebrae Ceará)
Sob o calor do semiárido, entre a florada da aroeira, nasce uma das mais promissoras atividades produtivas da região dos Inhamuns, a apicultura. É a partir da organização dessa cadeia e da força das agroindústrias do mel que o território dá um salto de qualidade, agregando valor ao produto e promovendo desenvolvimento local com identidade.
A região composta por municípios como Aiuaba, Tauá, Arneiroz, Quiterianópolis e Parambu viu crescer nos últimos anos a produção apícola e, principalmente, a estruturação das agroindústrias que processam, embalam e qualificam o mel. Esse avanço foi impulsionado por um conjunto de ações coordenadas pelo Sebrae Ceará, por meio do Escritório Regional dos Inhamuns, com foco em consultorias tecnológicas, regularização sanitária, certificações e acesso ao mercado.
“Nosso trabalho vai além da produção. Ajudamos a transformar o mel em um produto com identidade, rastreabilidade e valor agregado. Investimos na legalização das casas de mel, na obtenção de selos de inspeção e na criação de novos canais de comercialização para os apicultores da região”, afirma Gina Sena, articuladora do Sebrae na região dos Inhamuns.
O valor que vem da regularização
Um dos principais desafios enfrentados pelas agroindústrias do mel no semiárido ainda é a ausência de estrutura adequada e a dificuldade de obter os selos sanitários exigidos por lei. Sem esses selos, como o SIM (Selo de Inspeção Municipal) ou o SIF (Selo de Inspeção Federal), os produtores ficam limitados a vender o mel a granel, com baixo valor de mercado.
É para mudar esse cenário que o Sebrae atua diretamente na capacitação de apicultores e na adaptação das unidades de beneficiamento. A APMUT, Associação dos Apicultores do Município de Tauá, por exemplo, passou por um processo completo de reestruturação com apoio técnico da instituição. O resultado foi a conquista do Selo de Inspeção Federal, um marco que abriu portas para a comercialização em larga escala.
Hoje, com instalações adequadas, rotulagem padronizada e manual de boas práticas em vigor, a associação projeta ampliar suas vendas para outros estados e países. Esse salto também impulsionou a criação de uma cooperativa que busca novos mercados e oportunidades para os produtos derivados da apicultura.
Da colmeia para o mundo
As casas de mel estruturadas nos Inhamuns vão muito além do processamento. Elas são o elo que liga o trabalho das abelhas ao mercado consumidor, traduzindo o esforço do campo em um produto competitivo. Com o apoio do Sebrae, os apicultores da região conquistaram a Indicação Geográfica (IG) para o Mel de Aroeira dos Inhamuns, um reconhecimento que certifica a origem e as qualidades únicas do produto.
Com a IG e o SIF em mãos, os apicultores começaram a exportar para o mercado da Suíça. O sonho e o trabalho agora são para a conquista da certificação orgânica e a venda do mel polifloral para a Europa e os Estados Unidos. Essa internacionalização da agroindústria é fruto direto da qualificação técnica e do apoio estratégico recebido.
“Quando a agroindústria é organizada e legalizada, o produtor deixa de vender o mel como matéria-prima e passa a vender um alimento nobre, com rótulo, origem e história. Isso muda a lógica de renda, de mercado e de futuro”, reforça Gina Sena.
Boa parte das agroindústrias da região está vinculada a associações locais, como a Associação dos Apicultores de Aiuaba. Essa estrutura coletiva tem se mostrado essencial para viabilizar investimentos e garantir a regularização dos empreendimentos. O caso da APIMAI, Associação dos Apicultores do Mel de Aroeira dos Inhamuns, é outro exemplo. Com o suporte do Sebrae, a entidade se tornou referência na organização da cadeia e na busca por certificações.
“A gente recebeu uma visita técnica do Sebrae para nos auxiliar numa consultoria. Nós já estávamos buscando por isso, então nós abraçamos essa oportunidade. Transformamos os desafios em novas conquistas, e o Sebrae foi quem nos ajudou nessa virada de chave”, conta Cleide Fernandes, apicultora de Aiuaba.
A agroindústria do mel nos Inhamuns mostra que é possível promover desenvolvimento econômico com respeito à cultura, ao território e ao meio ambiente. Com o apoio do Sebrae, a região transforma o “ouro líquido” da caatinga em ferramenta de inclusão produtiva, geração de renda e projeção territorial.
“O que está sendo construído no Sertão dos Inhamuns é um modelo de desenvolvimento baseado na vocação regional e na qualificação das pessoas. A apicultura e suas agroindústrias nos mostram que é possível transformar o que já existe em oportunidades reais de crescimento”, conclui Gina Sena.